Walmir Rosário e Odilon Pinto, em Brasília, na comemoração de aniversário do Ministério da Agricultura (foto Águido Ferreira) |
Digo, afirmo e provo! E eis que no sábado passado, eu e os amigos
Batista e Arenouca resolvemos colocar a conversa em dia e nos
dirigimos ao Laginha, em
Canavieiras, boteco que se preza pela cerveja gelada e bons
tira-gostos. Nem bem chegamos à mesa, encontro o colega advogado
Leonício Guimarães (Léo), canavieirense, ex-vereador em Itabuna,
às voltas das reminiscências sobre o rádio grapiúna.
Há muito queria lembrar o
texto da vinhenta de encerramento do programa De
Fazenda em Fazenda e Na Fazenda do Odilon, que apresentamos – o
locutor que vos fala e Odilon Pinto – há bem mais de 30 anos.
Confesso que não me lembrava, mas diante da insistência de Léo,
começamos a falar sobre os programas, os estilos, a qualidade da
informação que levávamos a um público urbano e rural.
Para os que não conheceram ou sequer ouviram falar, o programa de
rádio De Fazenda em Fazenda foi um canal de comunicação entre a
Ceplac e seu público-alvo: agricultores e trabalhadores rurais,
traduzindo as mensagens técnicas ao homem do campo de forma simples,
alegre e descontraída. Teria
de
levar a mensagem técnica de forma compreensível e que produzisse
resultados positivos em toda a região cacaueira da Bahia.
Alguns formatos foram pensados e levados ao ar por grandes
comunicadores, mas a interação não chegava ao pretendido, até o
chefe da Divisão de Comunicação, Mílton Rosário, se bater com
Odilon Pinto. Só que tinha um problema quase intransponível: Odilon
Pinto era comunista de carteirinha, volta e meia interrogado e preso,
e não poderia trabalhar num órgão do governo federal,
principalmente nos tempos da revolução de 64.
Para convencer os militares, foi necessário o aval de Mílton
Rosário ao secretário-geral José Haroldo Castro Vieira, que
conseguiu convencer os militares.
– O homem é bom e eu respondo por ele –, garantiu José Haroldo.
Realmente, os esforços de Mílton e Zé Haroldo não foram em vão.
Odilon era um artista nato; um músico que tocava os sete
instrumentos e ainda cantava; um comunicador por excelência e que
sabia fazer se entender pelo doutor e o operário rural.
Paralelamente ao programa de rádio, Odilon criou um grupo regional,
que se apresentava nos eventos técnicos e culturais da Ceplac, ou
nas noites festeiras das cidades próximas.
Mas eis que chega a democracia e os homens do PMDB mudam a direção
da Ceplac e resolvem, também, trocar a emissora de rádio: em
vez da Rádio Jornal de Itabuna, onde era
apresentado, o De Fazenda em Fazenda passou a ser transmitido na
Rádio Difusora, do político Fernando Gomes. De pronto, Odilon
enfrenta a direção da Ceplac, se coloca à disposição da Dicom e
passa
a apresentar um seu programa, agora Na Fazenda
do Odilon.
Para os ouvintes isto
criou uma confusão danada, pois as duas
emissoras apresentavam programas parecidos, com nomes e
apresentadores diferentes. E assim continuou. Após um curto espaço
de tempo e muitos apresentadores, acumulo
a reportagem e a apresentação
do De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora, da 4 às 7 horas, sem
abandonar o trabalho nos veículos impressos e de vídeo da Ceplac.
Para competir com o artista e amigo dos ouvintes, Odilon Pinto,
fizemos uma reformulação no programa, criando quadros com a
participação de engenheiros agrônomos, médicos veterinários,
técnicos agrícolas, utilizando toda a estrutura dos escritórios da
Ceplac na região, além de músicas. Deu certo, e por incrível que
pareça, chegamos a receber cerca de até 600 cartas por semana,
enviadas por uma população quase sem alfabetização.
E Odilon continuou fazendo sucesso com seu programa. Tempos depois
deixo a Ceplac (depois retornei), e Odilon Pinto resolve se
candidatar a deputado estadual.
– Está eleito, diziam, basta encomendar o terno para a posse –
garantiam
todos.
Odilon, que sempre foi filiado ao Partido Comunista do Brasil
(PCdoB), se candidatou pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN),
de Collor de Mello, à época liderado na Bahia pelo empresário
Pedro Irujo. A cada pesquisa o nome de Odilon Pinto aparecia com
maiores pontuações. Essa confiança do eleitorado contagiou Pedro
Irujo, que investiu pesado na campanha eleitoral de Odilon.
Proibido pela lei eleitoral de apresentar o seu programa, Odilon me
convida para tomar seu lugar ao microfone da Rádio Jornal e entra de
cabeça na campanha que poderia lhe dar uma vaga na Assembleia
Legislativa. Devido a minha experiência em campanhas políticas, uma
semana antes da eleição, perguntei ao candidato Odilon se já tinha
elaborado o planejamento para a boca de urna. Recebi um não como
resposta.
Me disse que no dia da eleição sairia de casa, votaria e retornaria
ao lar, onde descansaria da campanha. Nesse dia, sai da rádio e fui
a Itajuípe, onde atuava como assessor de comunicação. Uma rápida
visita às entradas da cidade, observei como os políticos locais
abordavam os eleitores que chegavam da zona rural para votar e
recebiam promessas de vantagens. Me veio a cabeça a falta de
planejamento e a mudança nas pesquisas.
Resultado, o consagrado
Odilon Pinto obteve uma votação pífia, e sequer alcançou a
suplência. Pouco tempo depois, Odilon conclui seu mestrado, depois
doutorado em Linguística e se dedica ao ensino do português na Uesc
e outras faculdades.
Antes que me esqueça, consegui lembrar do jingle de encerramento do
programa:
– Acorda João Grilo, Porfírio e Odilon, que o momento é bom pra
nós viajar, o jegue corre que faz até medo, e amanhã bem cedo nós
torna(sic) a voltar –.
E os votos ficaram De Fazenda em Fazenda.
ResponderExcluirE os votos ficaram de fazenda em fazenda.
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