Danielzão no Itabuna Esporte Clube |
Por Walmir Rosário
Daniel Souza Neto, ou Danielzão, como era conhecido, não atuou nas 11, mas pode-se dizer que jogou nas duas posições mais visadas do futebol: goleiro e centroavante, além de ponta-direita. Nas duas, tinha objetivos completamente contraditórios – defender e fazer gols. Quem o conheceu atuando garante que desempenhou todas com competência, ou seja: conhecia do ofício de jogar bola.
Como amador, jogou nos dois Botafogos do bairro da Conceição – o de cores vermelha e branca, de Maninho, e no da camisa preta e branca com a estrela solitária –; o Grêmio, Bahia, Flamengo e Janízaros. No futebol profissional atuou no recém-formado time do Itabuna e no Leônico, de Salvador. Times amadores não era bem a expressão da verdade, já que de uma forma ou de outra, eram remunerados.
Em 1950, Danielzão – o goleiro – veio da Fazenda São José, no município de Ilhéus, para jogar no Botafogo vermelho e branco. Na verdade, ele não gostava de ficar parado embaixo dos “três paus” e sua vontade era correr lá na frente, trombar com os zagueiros e balançar a galera com os gols marcados. Em 1951 foi trabalhar em São Paulo, voltando para Itabuna no ano seguinte, 1952, disposto a mudar de posição.
E agora no outro Botafogo, dirigido por Rodrigo Antônio Figueiredo, o Rodrigo Bocão, e Sílvio Sepúlveda. Numa das partidas foi reconhecido por um torcedor – Ferrugem –, que o indicou a Sílvio Sepúlveda como um grande goleiro. Proposta feita e imediatamente recusada. Como Sílvio não desistia facilmente, fez uma nova proposta, desta vez acrescentada de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) por semana, e imediatamente aceita.
Do Botafogo mudou para o Grêmio, onde foi vice-campeão de 1955 e 1956, depois para o Bahia, ainda no gol, até voltar para o Botafogo, em 1960, como centroavante. Em 1964 se transferiu para o Leônico, como ponta-direita, e na estreia marcou dois dos quatro gols da vitória contra o Galícia. Em seguida recusa uma proposta do Bahia, com um grande salário, pois foi indicado a João Guimarães pelo amigo Fernando Barreto.
Convidado pelo CSA de Alagoas e pelo Sergipe, preferiu voltar a Itabuna, jogando pelo Flamengo. Convocado várias vezes para a Seleção de Itabuna, em 1967 foi para o Itabuna Esporte Clube, profissional, onde encerrou a carreira. Danielzão aponta as diferenças do futebol jogado antes e agora e diz que foram introduzidas muitas mudanças na forma de jogar, além do preparo físico, hoje científico.
Lembra Danielzão, que o primeiro técnico completo que conheceu foi Ivo Hoffmann, do Itabuna, nos fins dos anos 60. Ele diz que naquela época acordavam às 5 horas para fazer física e logo em seguida iam para o trabalho. Dentro de campo, pegavam a bola e olhavam para quem passar, e agora, quando se recebe uma bola, já têm três ou quatro marcadores em cima.
Para Danielzão, Itabuna sempre foi uma “fábrica” de craques, mas ele cita Léo Briglia, Santinho e Gerson Sodré como os maiores itabunenses que viu jogar. Ele credita a alguns dirigentes despreparados a escassez de jogadores formados em Itabuna, pois, sob o pretexto de armar um grande time, preferem trazê-los do Rio de Janeiro e São Paulo.
Na visão do centroavante, enquanto os atletas locais jogavam por amor à camisa, os de fora vinham apenas em busca do dinheiro. E cita como exemplo o início do Itabuna, quando existiam craques regionais como Ronaldo, Santinho, Bel, Déri, Fernando Riela, ele mesmo, e o time foi campeão do interior. Danielzão cita que quando o Itabuna tinha o melhor ataque, com Élcio, Santa Cruz e Milano, o time ganhava dos grandes, quando tudo ia bem, e perdia para os pequenos quando não tinha dinheiro.
Apesar de não ter ganhado dinheiro com o futebol, Danielzão ressalta que fez grandes amigos, e que poderia ter uma carreira bem-sucedida, pois tinha preparo físico para correr os 90 minutos, marcava os zagueiros e ainda fazia muitos gols. Aos que iniciavam, aconselhava cuidado com a saúde e resguardo na bebida, não fumar e não perder noite.
Uma família de craques
Como diz o ditado: “filho de peixe peixinho é”, os três filhos de Danielzão seguiram a mesma carreira do pai. Claro que não faltou incentivo, levando os filhos para o estádio, e um empurrãozinho na carreira. Todos eles aprenderam bem a lição, tanto que foram bem-sucedidos na vida profissional.
O primeiro deles foi Danielzinho, ponta-direita que iniciou a carreira no Itabuna Esporte Clube, de onde saiu para alçar novos voos no Bragantino, de São Paulo, e no Goiânia.
Roberto, o Beto, quarto zagueiro, foi o segundo a se profissionalizar – também pelo Itabuna – e ainda jogou no Bonsucesso e Friburguense, do Rio de Janeiro; Leônico e Atlético e Alagoinhas, na Bahia. Como técnico, atuou no Grapiúna. Itabuna, Colo-Colo, e coleciona títulos pelas seleções amadoras que treinou.
Guiovaldo, o Gui, ponta de lança e lateral, é o terceiro da família Souza Neto. Também passou pelo Ávila, de Portugal, Bonsucesso, Americano de Campos, Juventus de Minas, Grapiúna. Retornou ao Itabuna e o Colo-Colo, de Ilhéus.
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