MORTE DE ALMIR MELO DEIXA CANAVIEIRAS ÓRFÃ

Por Walmir Rosário

Aos poucos, o Grande Arquiteto do Universo, Deus – ou o todo-poderoso de qualquer das religiões ou línguas conhecidas – vai chamando seus filhos para que fiquem ao seu lado. Por certo, cumpriram a missão nesta terra e se preparam para novas tarefas. Neste domingo (28), chegou a vez de Almir Mélo, aos 75 anos (completaria 76 em no próximo 5 de outubro).

Almir Mélo não gostava de comemorar seu aniversário, mas esperava protagonizar outro festejo, o da eleição e chegou de Salvador – onde cumpria o isolamento social – para anunciar a Canavieiras sua disposição de governar sua amada terra por mais 4 anos. Concedeu entrevistas e afirmou em alto e bom som que era pré-candidato, disposto que estava de voltar a reconstruir sua cidade.

O retorno de Almir Melo à vida política decorreu de uma série de fatores, sendo que o que mais pesou foi o clamor dos canavieirenses para que voltasse a ser o timoneiro de sua terra, atualmente atravessando por mares revoltos. Esperavam eles viver conforme o ditado popular: depois da tempestade vem a bonança. Ao que tudo indica, não seria do designo de Deus.

Prefeito por quatro mandatos, é reconhecido até pelos adversários como o maior e melhor administrador de Canavieiras. E não seria pra menos, pois contra fatos não existem ou resistem argumentos. Basta um simples passeio pela cidade para que os feitos sejam constatados nos equipamentos públicos erguidos para atender às áreas da educação, da saúde, da assistência social.

Nos quatro mandatos soube se situar no tempo e no espaço. Com seu prestígio político conseguiu recursos para implantar equipamentos e serviços, desenvolver sua cidade, melhorar a vida de sua população. Conseguiu a abertura de rodovias, facilitou a circulação de pessoas de outras cidades e vislumbrou o turismo como a principal vocação de Canavieiras ao garantir a construção da ponte sobre o rio Patipe para o acesso à Atalaia.

De repente, Canavieiras se transformou em Canes – mas só para os íntimos, como dizia o slogan da peça publicitária –, com um ‘n’ só para se diferenciar da famosa cidade da Côte d'Azur francesa, Cannes. E começou modernizar Canavieiras sem desprezar sua história, suas tradições culturais, que considerava a maior riqueza do seu povo. E vibrava com cada resultado alcançado.

Canavieiras, a cidade das areias brancas! Era aqui neste torrão que pretendia descansar após o último suspiro. E cumpriu o roteiro com maestria. Deixou o isolamento social em Salvador desobedecendo os conselhos de amigos e familiares para cumprir o que pedia sua vontade. Teimosia para uns, seguir o predeterminado por Deus para os que o conheciam de mais perto.

Uma corrente sempre foi o símbolo que o unia aos seus eleitores. Cada um – correnteiro – era um elo que os ligavam pelo amor a Canavieiras. Se um dos elos se partia, imediatamente outro era agregado, bem soldado, sedimentado. Franco e aberto no seu pensar e agir, por vez era mal-entendido ao não prometer projetos e favores individuais num país em que vigora o tome lá, dá cá.

Mas o carisma de Almir Mélo transcendia a esses pequenos desencontros e com a mesma altivez de um sim, quando era possível, dizia o não, complementando que teria sido eleito para trabalhar por Canavieiras e não por pessoas. Conhecedor de cada um dos moradores pelo nome e apelido sabia-os cativar pelo jeitão afável, mesmo tratamento que emprestava aos novos amigos.

Fechou seu ciclo! Como um portentoso jequitibá que tomba na Mata Atlântica de Canavieiras, Almir Mélo sucumbiu aos problemas coronarianos, festejando quando possível, se resguardando nas adversidades. Na floresta, o jequitibá espalha as sementes e faz brotar seus sucessores; na política também é possível, desde que o herdeiro professe dos mesmos ideais, das mesmas determinações, os mesmos compromissos.

Como dizia Almir Mélo nos mais de 44 anos de vida pública: “Que ninguém questione a nossa lealdade! Que não pairem dúvidas sobre a nossa força! Que não se levante suspeita sobre o nosso amor por Canavieiras! O Correnteiro é Fraterno! O Correnteiro é Guerreiro! o Correnteiro é Valente! Não mexa com o Correnteiro quando o que está em jogo é a autonomia, a independência e os interesses da nossa cidade.

Que a saudade se transforme no cimento nos elos dessa corrente por Canavieiras.





Comentários

  1. Estava ansioso pela o que iria escrever. Parabéns pelas sábias palavras.

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  2. Amigo
    Como vale a pena ter sido conhecido pela lente teus olhos e ser descrito pela pena da sua caneta.
    Vc imortaliza os imemoriais que irão se poder com o tempo.
    Fazer memórias para aqueles que não sabem e importam com a sua ancestralidade.
    Que bom que vc esta próximo a este jequitibá....
    Obrigado

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  3. Que lindo texto, este era Almir Melo Amado por muitos, odiado por alguns e respeitado por todos.

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  4. Parabéns Walmir Rosário, por sua crônica muito bem escrita, em homenagem ao nosso conterrâneo e prestigiado líder político de Canavieiras.

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  5. Linda mensagem . Coração guerreiro correnteiro valente. Que amou nossa terra.
    Deus de um bom lugar
    Parabéns pelas belas palavras Walmir Rosário.

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  6. Todos, falaram um pouco do que era Almir. Sempre atencioso comigo e minha família, principalmente, Cacia de quem era colega. Vá em paz Almir.

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  7. Linda e verdadeira mensagem . Almir é imortal , transformou - se , misturou - se as areias brancas que tanto amava . Saudades

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  8. Walmir, assim que soube da partida de Almir, me veio você, sabia da amizade de vocês. Duas porradas em pouco espaço de tempo, mas vida que segue. Abraço amigo.

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  9. Parabéns meu Grande Ir.'. Walmir pelo sua mensagem. Abraços fraternos ERNANDE MACEDO

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