Sítio Histórico de Canavieiras, camarote a céu aberto |
Por Walmir Rosário
Em todos os eventos realizados em Canavieiras frequentemente lemos ou ouvimos loas sobre os benefícios econômicos ou financeiros advindos desses festejos (só festas, mesmo), para tentar convencer à sociedade sobre as vantagens de contratar bandas e cantores (nem tão famosos). Por si só, essa é uma demonstração de que o caminho tomado não é o mais adequado a ser seguido.
Pode até tentar explicar, mas não convence, principalmente aos mais críticos, que não devem ser chamados de oposição, aves de má agouro e outros adjetivos pejorativos, como se fossem apenas arautos de futricas. Os recursos públicos devem ser aplicados com transparência e os questionamentos são válidos e necessários, no sentido de corroborar, ou não, as ações dos gestores.
As contas do turismo não são tão simplórias como alguns gestores acreditam, pois não são lastreadas de cunho científico, e não existem informações sobre os equipamentos de hotelaria (pousadas, restaurantes e bares) para avalizar as assertivas. Também não há nenhuma informação sobre os que aqui vêm, os motivos e o montante dos recursos que pretendem e efetivamente gastam.
Outra grande falácia é a divulgação aleatória do número de pessoas presentes em um determinado evento e quando eles gastam, sem qualquer informação sobre a condição financeira e a disposição de entregá-lo aos donos de restaurantes, bares e “capeteiros”. Também seria de importância fundamental a origem desses festeiros, de onde vieram – Itabuna, Ilhéus, Santa Luzia, Camacan, ou dos bairros de Canavieiras.
Portanto, nada mais falso que prestar informações inverídicas. O que deveria ser informação passa a ser desinformação propositada, com intenção de enganar os incautos e escamotear a verdade, a falta de conhecimento. Mas o desconhecimento da atividade turística não é um referencial de Canavieiras, mas de centenas de municípios brasileiros que brincam de explorar o turismo.
Sem trocadilho, exploram o turista duplamente: primeiro, pela propaganda enganosa do que oferecerá; segundo, por cobrar preços não condizentes com a realidade oferecida, deixando-os insatisfeitos. E a culpa é de quem? Do poder público? Da iniciativa privada? De ambos? Acredito que de todos os envolvidos, resguardando alguns empresários que conseguem sair da mesmice reinante e consegue encantar meia dúzia de clientes.
As questões estrutural e conjuntural convivem de braços dados como dois amigos que se detestam mas não têm coragem de promover o rompimento do status quo, vivendo de tapinha nas costas, na presença, e falando mal quando distantes. As iniciativas pública e privada sabem quais são os problemas que as afligem, embora não tenham coragem de tentar solucioná-los.
O que estou dizendo pode ser comprovado por qualquer cidadão, basta acessar os planos de governo apresentados à Justiça Eleitoral, quando o gestor, ainda candidato, prometeu o que faria se eleito. Todas as propostas indicam – mal ou bem-apresentada – a transformação do modelo turístico do sazonal para o perene, “garantido” a geração de emprego e renda a todos.
E até que Canavieiras já tentou mudar o seu estilo turístico, mas esbarrou nas mudanças de gestão. Tivessem dado continuidade ao Projeto Canes, teríamos hoje empreendedores com experiência na área e mais turistas frequentando as nossas praias. Digo praias, mas acrescento a beleza do casario do apogeu da cacauicultura, da riqueza ambiental dos manguezais e da mata atlântica, do cacau simbolizado pela fazenda Cubículo.
Não houvessem jogado ao lixo os recursos para a construção do projeto de requalificação e urbanização da praia da Costa, nas avenidas Beira-mar e Tucunarés, bem como do Parque Ecológico Luiz Eduardo Magalhães, com a Passarela do Robalo e o Caminho da Fé, por certo a situação seria outra. Claro que não estamos falando da salvação do turismo, mas de meio caminho andado.
Equipamentos turísticos como esses teriam atraído novos investimentos para a cidade e a geração de emprego e renda deixaria de ser uma falácia para se transformar em realidade. Pouquíssimas cidades brasileiras têm belezas e histórias para serem contadas e vendidas ao público nacional e internacional como Canavieiras, mostrando do primitivo ao moderno no mesmo conjunto.
Temos um dos maiores bancos pesqueiros de marlim do mundo, o Royal Charlotte, objeto de desejo dos pescadores dos chamados peixes de bico, que visitam Canavieiras todos os anos. Com a tecnologia, essa modalidade de pesca preserva os cardumes, pois os peixes são apenas fisgados, filmados e fotografados para medir o comprimento e o peso do peixe, que em seguida é devolvido ao mar.
Atualmente o canavieirense vive de lembranças, das boas lembranças em que Canavieiras sediava constantemente eventos regionais e um dos seus maiores produtos de marketing, o caranguejo. Antes promovia o Festival de Caranguejo – algumas edições – privilegiando-o em diversas formas, como mandava a culinária canavieirense, ao contrário de hoje, em que no principal sítio da festa não se encontra um caranguejo para remédio.
Não se pode negar o brilho artificial dos últimos Festivais do Caranguejo, com chefs da cozinha internacional elaborando pratos mirabolantes às vistas dos espectadores, que apenas comem com os olhos e lambem com a testa. Projeto copiado do desenvolvido na vizinha Itacaré, cujo modelo de turismo é totalmente diferente do praticado em Canavieiras.
Antes de tudo, é preciso dar dignidade aos serviços públicos essenciais prestados pela administração municipal, coletando o lixo e não permitindo que comerciantes e moradores joguem os sacos na rua em pleno domingo; oferecer um serviço de saúde à altura; cursos de aprendizagem junto com o Sistema S; ter perfeito entrosamento com a iniciativa privada, para organizar um calendário de eventos anual capaz de atrair turistas.
Do contrário, vamos continuar vivendo de lembranças, das boas lembranças de Canavieiras, a começar pelo restaurante da Tia Jael (fechado a décadas), onde o atendimento era primoroso, a cozinha sensacional e ela uma doçura de pessoa, daí as estrelas da Quatro Rodas. Pensando bem, nem de passado podemos viver por falta de um museu que poderia contar a história dos coronéis do cacau da outrora Princesinha do Sul.
Muito bom meu amigo isso que vc escreveu foi o mesmo assunto que eu e outros conversamos em meu boteco vc com mas profundidade, obrigado
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