A TEIMOSIA ELEITORAL DE CARIOCAS E FLUMINENSES

 

Por Walmir Rosário

Neste fim de semana quebrei uma promessa feita a mim mesmo e fui dar uma olhada nas notícias publicadas nos jornalões brasileiros e me arrependi de passado os olhos nas manchetes estampadas. Me arrependi amargamente de ter quebrado o juramento, já que nada mudou, quer dizer, notei que a grande imprensa resolveu dar uma pequena trégua em nos amedrontar com o tema Covid-19.

Fora disso, muita chuva em terreno molhado. O assunto corrupção ganhava de 7 X 1 da pandemia, principalmente no Rio de Janeiro, onde parece que o crime ainda compensa, apesar de os esforços empreendidos para desmantelar as quadrilhas. Quer dizer, metá metá. As quadrilhas dos morros cariocas continuam sem perturbações das polícias, mas a sorte não anda nada boa para as gangues do asfalto.

Me perdoem se não me expressei bem ao escrever a palavra asfalto, mas por força do hábito, essa grafia era bastante utilizada antigamente para diferenciar dos morros dos bairros da planície e o centro da cidade. Muitas músicas, principalmente sambas e boleros faziam essa distinção quando contavam as histórias de amor impossível entre moradores desses locais – hoje comunidades – diferentes.

Mas o que na verdade eu queria dizer é que esse asfalto tem endereço e CEP no Palácio Laranjeiras, que embora tenha como proprietária a União, é a moradia do governador do Estado. Ali é que residem os problemas. Pelo que observei num busca na internet, cinco ex-governadores do Estado do Rio de Janeiro já foram – e alguns ainda se encontram – presos, com o risco de mais dois seguirem o mesmo caminho.

E não é que a Assembleia Legislativa do RJ quer mandar o Wilson Witzel – já afastado pelo STJ – mais cedo para casa. Pior, ele corre o risco de ter que deixar sua casa e mudar para Bangu ou Benfica – ao que me lembra dois times cariocas, embora sejam bairros que sediam presídios – pela conduta indevida e falta de parcimônia com o suado dinheiro do contribuinte.

Se o governador se meteu em camisa de onze varas e se deu mal, sina parecida corre o vice-governador que assumiu o cargo, já que as delações premiadas dão conta que Cláudio Castro – governador em exercício – também estaria metido no lamaçal. Caso se confirmem as delações, o Estado do Rio de Janeiro seria hexa, hepta, batendo todos os recordes possíveis e imagináveis.

Mas o que teria levado o Estado do Rio de Janeiro a esse declínio ético e moral? Pelo que se sabe, aquele Rio de Janeiro vendido ao mundo como a cidade da malandragem, do carioca sabido, acostumado a levar vantagem em tudo ficou pra trás, foi sepultado de vez. Ao que presenciamos, o malandro carioca de hoje trabalha e pena num trem da Central, ônibus ou metrô como qualquer trouxa de antes.

Faz tempo que o malandro não frequenta um samba nos morros, não dança nas gafieiras e sequer sabe o que é um terno de linho S120, com um lenço no bolso de cima do paletó e sapato duas cores envernizado. Quanta decadência! No lugar da navalha porta um instrumento de trabalho, que tanto pode ser uma picareta, uma caneta ou um pesado fuzil russo AK 47 de alto poder destrutivo.

Mas o malandro finório de antes não se metia nessas encrencas pesadas, que requer muito esforço e muitas complicações com a polícia. Sinceramente, não sei o que foi feito do malandro carioca, por onde anda, como faz para se manter numa boa, naquele estilo que víamos nos filmes nacionais estrelados pelos atores e humoristas Ankito, Oscarito, Zé Trindade e Grande Otelo.

Pelo que sabemos, os subúrbios cariocas e fluminense não hospedam mais essas figuras. Os malandros de agora preferem os bairros grã-finos, as mansões do Leblon, os condomínios luxuosos da Barra da Tijuca, e utilizam helicópteros como meio de transporte. A astúcia é voltada para grandes transações financeiras realizadas por baixo do pano com o dinheiro público.

Me preocupa essa involução do malandro carioca, passado pra trás como um simples trouxa, um otário qualquer que nem percebe o lance que lhe subtrai a carteira sem a necessidade de, sequer, mostrar a navalha. Pelo visto, o malandro carioca de antes não acreditou nas voltas que o mundo dá, na modernidade da tecnologia, que numa simples transação bancária lucra com milhões em negociatas.

Pensava, ainda, o malandro carioca que o conto do vigário era o mesmo dos tempos em que o Rio de Janeiro era a sede o império, da república, dos figurões que se locupletavam com modéstia. Nada disso, a vigarice se capacitou sobremaneira embora continuasse acreditando na imunidade concedida aos políticos. Bastava lembrar de um ditado popular que reza com sabedoria: Malandro demais se atrapalha, pois o voto que recebe é para governar e não para infringir o impoluto 7º mandamento da lei de Deus.


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