Mineiro, ainda goleiro do Bangu de Itapetinga |
Por Walmir Rosário
O ano era 1972. De passagem por Itabuna, resolvi ficar um fim de semana para rever os velhos amigos e assistir a uma partida de futebol pelo Campeonato Baiano de profissionais, ainda realizado no velho campo da Desportiva. E jogavam o Itabuna Esporte Clube (IEC), o meu time de fé, o Esporte Clube Vitória. “Vai ser um jogaço”, avaliei pelo número de craques das duas equipes.
Na tarde da sexta-feira que antecedia o jogo (domingo), fui à ao campo da Desportiva para rever a equipe itabunense e os amigos esportistas. Um fato que me chamou a atenção foi a decisão de um dos goleiros do Itabuna, Mineiro, se despedir do time, por achar que não teria chance na equipe, devido ao nível dos outros dois goleiros: João e Luiz Carlos.
E, para agradecer a participação de Mineiro durante o tempo em que passou no Itabuna, a diretoria e o técnico do Itabuna resolveram prestar uma homenagem a esse goleiro na sua despedida, escalando-o como titular naquela partida. Luiz Carlos foi dispensado e João ficou como o goleiro reserva para a partida contra o Vitória, que tinha formado um grande esquadrão.
Não sei por que motivo acreditei que aquela homenagem era fora dos propósitos, pois se um colaborador se despede, vai embora, é porque não está dando certo ou qualquer outro motivo que impeça a sua participação. Fiquei com minhas dúvidas, compartilhadas com os amigos presentes. Era uma premonição. Talvez, até por ser Luiz Carlos, o titular absoluto, o goleiro dispensado para o jogo.
Acho até que, por respeito ao Vitória, que formou um timaço para ser o campeão daquele ano, com atletas de primeira linha, o Itabuna deveria jogar com sua força máxima, para fazer frente o rubro-negro da capital. Relembro muito bem dessa magnífica escalação: Agnaldo, Roberto, Leleu, Válter e França; Fernando (Almiro) e Juarez; Osni, Gibira, André Catimba e Mário Sérgio.
Era uma defesa segura, um meio de campo de respeito e um ataque devastador, daqueles que não se brinca em serviço. Mas o Itabuna resolveu encarar. Só para relembrar, abro um parêntese, para dizer que o Itabuna ainda tentava se recuperar daquela “garfada” de 1970, quando o interventor da Federação Bahiana de Futebol, Cícero Bahia Dantas, colocou o time “geladeira” por seis meses enquanto o Bahia disputava a Taça Brasil.
Sem condições de manter o “timaço” brilhante que disputou o campeonato, liberou os jogadores e perdeu as duas partidas da final por placares elásticos. Em uma delas, sem ter atletas suficientes para sentar no banco, colocou o roupeiro José Rodrigues uniformizado como jogador para figurar na reserva. À época, nosso roupeiro teria mais de 60 anos.
Mas voltemos ao Campeonato Baiano atual. Em 1972, portanto, o Itabuna despontava como uma das equipes candidatas a finalista do certame, pois contava com grandes atletas e a partida contra o Vitória seria um “teste” capaz de medir o potencial do time e dos jogadores. Seria um jogo de duas grandes equipes, ambas renovadas para disputar e ganhar o campeonato.
Campo da Desportiva lotado, as equipes entram no gramado. O Itabuna chutando para o gol do lado do Jardim do Ó. No gol do fundo, voltado para a Igreja e o Hospital Santa Maria Goretti, ficou o goleiro Mineiro se despedindo do Itabuna Esporte Clube, o “Meu time de fé”. Querendo mostrar serviço, pulava de um lado pra outro, saltando e dando tapas na trave superior.
O árbitro apita e começa o jogo com todo o entusiasmo da equipe da capital. Bola com o Vitória, Osni recebe a pelota de Gibira, desce pela direita até a linha de fundo e cruza o balão para André Catimba. É gol! E isso com apenas um minuto de jogo. Outra bola com Mário Sérgio, que dribla o lateral e cruza para André Catimba. Mais um gol do Vitória, simplesmente aos dois minutos de jogo.
Nova saída, o meio de campo do Itabuna consegue dominar a bola, que é recuperada em seguida pelo Vitória e França passa para Mário Sérgio, que tabela com Gibira e lança para André Catimba. Novo gol aos quatro minutos de jogo. Tremendo que nem vara verde e aos prantos pela performance negativa, Mineiro deixa o campo da Desportiva sob uma estrondosa vaia da torcida, reclamando dos 3X0 aos quatro minutos.
O técnico então recorre ao goleiro reserva. Sem ao menos se aquecer, entra João, arqueiro de estatura mediana, magro, ossos salientes, quieto e sério, com semblante de uma esfinge. E o jogo recomeça com o temível ataque do Vitória fuzilando contra o gol do Itabuna. Seguro, João não se abatia e defendia bolas impossíveis, “voando” nas gavetas do travessão.
Termina o primeiro tempo com o placar de 3 X 0, num jogo duro, em que embora fosse visível a superioridade do Vitória, o Itabuna se superava para manter o placar sem maiores alterações. Os atletas itabunenses conseguiam se sobrepujar às qualidades dos adversários, se avantajando nas jogadas com determinismo. E assim conseguiam evitar um placar desmoralizante.
Os times voltam para o segundo tempo se respeitando. Embora o Itabuna estivesse em desvantagem no placar e na condição dos atletas, que se sobrepujavam diante dos adversários, também não tinham condições de substituir o goleiro, caso fosse necessário. Numa das grandes jogadas do magnífico ataque do Vitória, Mário Sérgio marca o quarto gol, seguido pelo gol de honra de Itabuna.
Os 4 X 1 para o Vitória até que foi um resultado de bom tamanho. Neste ano de 1972 do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Itabuna não conseguiu um desempenho como o de anos anteriores, a exemplo de 1970, mas não decepcionou. Já o Vitória consagra-se campeão baiano invicto. Não foi um bom dia para o Itabuna, mas foi uma ótima oportunidade para a Bahia conhecer o Vitória, futuro campeão baiano.
Fui testemunha ocular do fato.
Uma partida de gigantes, observada por um verdadeiro craque na narrativa.
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