OS NÚMEROS GOVERNAM NOSSA VIDA; É A VEZ DO 70

 

O aniversariante Alberto com a mãe, filhos e esposa 

Por Walmir Rosário*

Sempre pensei que os números foram criados para serem exatos, fazer contas, cálculos de toda a natureza, medir distâncias, como da Terra a Marte, cobrar juros, dar preço às mercadorias, anotar o fiado em bares e mercearias. Aos poucos vou descobrindo que são muito mais que isso, como distorcer pesquisas, representar significados esotéricos, desvendar mensagens cabalísticas e por aí afora.

Confesso que nunca fui aquela “brastemp” em matemática e era apenas obrigado a estudar essa matéria para passar de ano. Nunca nos entendemos bem, mas sempre mantivemos uma relação amistosa. Apenas por necessidade. Porém, com o passar dos anos, os números começam a atormentar minha cabeça e sou obrigado a incorporar alguns significados considerados importantes.

Pra mim, os números sempre tiveram importância relativa, a começar da infância, coisas banais, mas que valiam a pena. Aos quatro anos fui para a escola. Não via a hora de completar os sete anos para incorporar a calça comprida ao vestuário; os 18 anos me dava passe livre na censura de filmes no cinema. Daí aguardava com ansiedade, os 30, 40 anos, até que percebi que pra cima disso era dobrar o cabo da boa esperança.

Nos últimos tempos tenho notado que o número da vez entre o pessoal de meu círculo de amizade é o número 70. Em 2019 recebi a incumbência de comemorar os 70 anos de meu amigo Josias Miguel, que não abria mão de completar essa idade sem contar sua vida num livro. Fiquei surpreso com a importância dada e lá foram 276 páginas da vida bem vivida. E olha que ficaram muitas histórias de fora. Meu dileto irmão Paulo Paulino foi outro que comemorou seus 70 anos em altíssimo estilo.

Como nunca fui afeito aos números, pouco dei importância ao completar essa idade. Não contei nada pra ninguém, mas como estava na casa do meu filho Júnior, ganhei bolo de aniversário, presentes de filhos, noras, genro e minha mulher, sempre ao meu lado. Comemoramos com boas bebidas e comidas, mas sem qualquer simbolismo ou coisa que o valha. Pra mim, era apenas um aniversário.

Aos poucos sempre era surpreendido com novos 70 anos a comemorar com amigos que conseguiram chegar a essa idade. Digo isso por me lembrar que há anos passados não era uma marca fácil de ser batida. Esse fato novo aguçou minha memória e comecei a pensar qual a diferença entre completar 50, 60 anos sem comemoração equivalente. Por que somente as 70 anos eram dignos de festa?

Em vista desse modismo apelei para o Google e fui conferir: “O número 70 combina a energia e os atributos dos números 7 e 0”. E mais: “O número 7 significa desenvolvimento espiritual, despertar espiritual, iluminação espiritual, sabedoria interior… O número 0 simboliza Deus e as energias do Universo (Fonte). Este número significa escolhas e potencial. Indica o desenvolvimento da espiritualidade”.

Alberto com recepciona os amigos

Pois bem, neste domingo (3), fui convidado pelo amigo e confrade Alberto Rocha, conhecido como Alberto Fiscal, em Canavieiras, e Coletor, em Camamu, para sua festa de aniversário dos 70 anos. No horário aprazado lá estava eu na sua mansão da Ilha da Atalaia, aboletado em uma mesa com amigos, degustando o que de bom Deus deixou para nós e desejando parabéns e longa vida ao amigo.

Para minha surpresa, assim que o músico Alfredo Neto deu uma pausa na cantoria, familiares e oradores tantos teceram loas ao aniversariante, quando fui surpreendido pelo pastor Derivaldo ao declamar o salmo 90, nos versículos 9 “Todos os dias de nossa vida se acabam por causa do seu furor, e os anos se vão rápidos e tristes como um suspiro”. E o 10 “O limite de nossa vida chega aos setenta anos, e só alguns, os mais fortes, conseguem chegar aos oitenta; entretanto, são anos difíceis e sofridos, pois a vida passa depressa, e nós desaparecemos”.

Fiquei preocupado com a palavra sagrada que decreta o limite da vida, ao mesmo tempo em que me senti um privilegiado por Deus como um daqueles fortes que poderão chegar aos 80 anos ou mais. Em vista disso, convoco os cabras de nossa idade que se esforcem para transformar os anos difíceis e sofridos em dignos de se viver, colecionando amigos tantos, principalmente os que se juntam em mesas.

Por falar em mesas, pretendia concluir essas mal traçadas linhas a descrever como fomos ricamente recepcionados pelos anfitriões – com o esmero de sempre –, em todas as ocasiões, mas, por certo, se ocuparão disso melhor que eu os cronistas sociais. Recomendo a todos um olhar mais apurado para os números, sem a necessidade dos complicados cálculos matemáticos.

Quem sabe teremos um futuro melhor.