O professor Edmundo Dourado em evendo católico |
Quando ouço alguém dizer que toda a unanimidade é burra, imediatamente
penso que ele não conhece ou ouviu falar do professor Edmundo Dourado da Silveira,
um dos maiores itabunenses nascido em Umbaúba, Sergipe. E nesta terça-feira, 14
de novembro de 2023, o itabunense chora a perda desse homem que sempre esteve
presente na vida de Itabuna, desde o início dos anos 1960.
E a notícia me pegou de surpresa, aqui em Santa Catarina,
onde me encontro, mesmo sabedor das dificuldades com a saúde do ilustre
professor Dourado, do alto dos seus 86 anos. Foi professor de três dos meus
filhos, que sempre engrandecem o mestre pelo que aprenderam, assim como cerca
de outros 40 mil alunos que tiveram a graça de tê-lo com professor.
Sempre gozou de reconhecida competência para ensinar as
matérias que quisesse, porém era consagrado como grande expoente em matemática e
filosofia. Sabia repassar o conhecimento sem firulas (não condeno os que fazem),
mas ele transmitia a árida matemática sem esforço, com poucas palavras até, porém
as exatas como a ciência a qual pertence.
Em filosofia era completo e deixava qualquer plateia
atenta aos seus ensinamentos quando a matéria era a Lógica. Não meço as
palavras e nem me acho esdrúxulo em dizer que o professor Edmundo Dourado fez
história na educação pelo seu conhecimento, mas, sobretudo pelo método didático
preciso, transmitindo sabedoria para alunos de todas as idades.
Desde que chegou a Itabuna lecionou em praticamente todos
os colégios, a começar pelo antigo Ginásio, hoje Fundamental II, o Ensino Médio
foi fundador das Faculdades de Filosofia de Itabuna (FAFI) e Faculdade de Ciências
Econômicas de Itabuna (FACEI), que integraram Federação das Escolas Superiores
de Ilhéus e Itabuna (FESPI), a atual Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC).
Fundou colégios com padrão de excelência, e por isso
bastante concorridos pela sociedade itabunense. Mas sua contribuição à educação
de Itabuna também se fez por sua passagem na Câmara Municipal de Itabuna, da qual
foi presidente e um dos responsáveis pela condução da Lei Orgânica do Município.
Como político, era visto pelos seus pares como um vereador acima das questões
meramente partidária.
Sua aptidão pela educação foi reconhecida desde que ainda o
menino pobre deixou Umbaúba, sua cidade natal, para estudar em Maceió, sendo
aprovado no temido Exame de Admissão ao Ginásio, com notas 10 em todas as
matérias. Daí, passou para exercer o magistério (?) ensinando seus próprios
colegas em troca de merenda e outras benesses, como gostava de contar.
Militar do Exército, deixou Recife ao ser transferido para
Ilhéus, e chamou a atenção do então Major Dória e do Tenente Everaldo Cardoso,
que o trouxeram para Itabuna, cidade na qual se destacou, como militar,
professor, político e cidadão. Homem de hábitos simples, pouca conversa, ouvia
muito mais do que falava. Ao tomar suas decisões as apresentava como certeiras,
abalizadas, concisas e equilibradas.
Tive o privilégio de conviver com o professor e vereador Edmundo
Dourado quando de meu retorno a Itabuna, em meados dos anos 80, ele vereador e
eu jornalista, inclusive com o cargo de Assessor de Comunicação da Prefeitura
de Itabuna. Depois também convivemos no Legislativo, no qual as questiúnculas
políticas partidárias passavam ao largo, pelo respeito que ostentava junto aos
seus pares.
Fora da política, o cidadão Edmundo Dourado era a primeira
pessoa a ser lembrada para ocupar cargos de direção em entidades da sociedade
civil organizada, a exemplo do Grupo de Ação Comunitária, pela sua sabedoria,
respeito e equilíbrio. Mesmo com a saúde abalada, nunca deixou de “chegar junto”
nas questões de Itabuna e era meu conselheiro quando eu exercia o cargo de secretário
municipal de Ações Governamentais e Comunicação Social.
Edmundo Dourado da Silveira é daquelas pessoas que estão
acima do bem e do mal em qualquer sociedade, não por vontade própria, mas pela
sua contribuição, daí o reconhecimento público. Sabemos que era homem de “carne
e osso” por se assemelhar a nós e ser o patriarca de uma família composta pela
sua esposa Maria Lúcia e quatro filhos.
*Radialista,
jornalista e advogado.
Uma perda lamentável.
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