OS TABULEIROS DE MACEIÓ: OS SOLOS, AS CAMADAS E O CAOS AMBIENTAL

 


Por Luiz Ferreira da Silva

Os tabuleiros se originam do terciário – formação barreiras, cuja litologia é formada por arenitos conglomerados, camadas e lentes de argila, arenitos não consolidados e lentes de seixos, conforme meu colega Augusto Pedreira (im), estudioso em geologia de áreas sedimentares.

Em certos trechos do litoral, esses sedimentos – esculpidos em mesa – são cortados por falésias abruptas, como acontece em Porto Seguro (BA) e na Lagoa Azeda/AL, além de outros locais do Rio Grande do Norte à Macaé/RJ.

Trata-se, pois, de materiais retrabalhados sobre os quais sob a ação dos fatores de formação do solo (clima, relevo e a biosfera) formam os solos identificados com a maior ou menor ação de um deles ou combinada.

O autor estudou perfis de solos em topos sequenciais, bem como camadas litológicas até 30 metros de profundidade, em corte de estrada, com vistas a detectar as variações do solo com a posição topográfica (carreamento) e com a posição do sedimento (estratificação cruzada), no intuito de verificar a interação geoecológica na formação dos perfis.

Em razão da natureza físico-química do material de origem, os solos são profundos, pobres em nutrientes, carentes em minerais primários e de baixa retenção de água. Argila de baixa atividade coloidal; dominância de sesquióxidos de ferro e alumínio.

Pois bem, isso é o que se pode ver, apalpar e sentir em trincheiras. Ou seja, os horizontes do solo, de 0 a 200 cm. O mundo do pedólogo, como eu.

Mas as camadas para baixo também lhe interessa, sobretudo os depósitos de água, através de análises de camadas profundas dotadas de areias grossas, contíguas aos argilitos e/ou folhelhos.

Essa estratigrafia é variável e, no caso de Maceió/AL possui uma camada de acumulação de sal (Figura 1), oriunda da evaporação da água salgada marinha, em tempos do plioceno recente. Uma riqueza para a indústria química.


Fig. 1. Estratigrafia e retirada do sal pela Brasken, 

(Poliana Casemiro, g105/12/2023).

É muito comum a perfuração de poços, explorando camadas acumuladoras de água, geralmente situadas a uma profundidade de 80 metros. Neste caso, é preciso se controlar a vasão retirada, utilizando com parcimônia, a fim não desequilibrar o sistema hídrico.

Há casos, ao se retirar excessivamente, o repositório baixar a um ponto tal que, através do lençol freático, o mar penetrar, salinizar e reduzir a qualidade da água, como aconteceu em zonas concentradas desses poços nos tabuleiros de Maceió/Al.

A Natureza nos dá, mas exige respeito às suas Leis. Nunca esquecer disso!

Esse introito até longo é para tentar entender a catástrofe ecológica acontecida em diversos bairros da capital alagoana, ocasionando danos irreparáveis a uma população de mais de 50 mil habitantes, mas não suficientes para sensibilizar o poder público.

Durante décadas, a Braskem minerou o sal-gema, explorando a camada de sais, desrespeitando regras ecológicas, sobretudo, referentes à manutenção do equilíbrio estratigráfico da formação geológica, aqui descrita.

É muito simples, para o leitor entender, de modo sucinto e sem muito “revorteio”. Imaginemos o gostoso bolo de rolo (Figura 2) que os pernambucanos inventaram para deleite de nós todos.

Fig. 2. Bolo de rolo/rocambole com diversas camadas.


Com um garfo, um abelhudo vai cutucando uma camada que mais lhe atrai no interior do bolo. Se pouca coisa, desinforma o bolo, mas sem muitas consequências. Mas ele não se contenta e manda ver na sua gula por doces. O que acontece? O bolo se desmorona.

A Braskem no seu imediatismo e afã de ganhos sem comedimentos, deu uma do nosso glutão, extraindo o sal de modo predatório, ocasionado o desequilíbrio das camadas, afetando o chão que as recobre.

O buraco que apareceu neste ano de 2023 teve um benefício: – lembrar ao poder público e à sociedade, nos seus diversos segmentos, um crime que vem lá de trás, impune na magnitude da agressão ambiental.

Essa celeuma, esse corre-corre de hoje com a mídia divulgando inverdades e os políticos se apiedando dos pobres, talvez seja em razão das próximas eleições de 2024.

A Natureza, em sua sabedoria, a tudo assiste e se lamenta em ter agido com firmeza, como sempre faz ao ter suas Leis contrariadas. (Maceió, Al, 05/12/2.023)

Pesquisador aposentado/Solos Tropicais, CEPLAC/BA.

luizferreira1937@gmail.com

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