SÃO JOÃO PASSOU POR AQUI?

 

Cai mercado de fogueiras (foto Prefeitura de Aracaju)

Por Walmir Rosário*

Nesta sexta-feira (21) que antecede os festejos juninos, circulávamos (eu e minha mulher) por Itabuna quando ela se lembrou da falta das fogueiras à venda pelas ruas e estradas. Realmente, é mais uma tradição da festa de São João quase extinta nas cidades de médio e grande porte, em parte pelo incômodo causado com o emaranhado de fios nos postes.

Acredito que não seja só este o problema: Quem comemora o São João com fogueira também costuma (ou costumava) ser farto nas bebidas, cujo carro-chefe é o licor, especialmente o de jenipapo. E como uma coisa puxa outra, ainda tinha a canjica, o milho cozido, os bolos, os fogos, bem como a disposição de deixar a casa aberta a convidados e passantes.

Era muito comum as famílias ficarem sentadas em cadeiras nos passeios, bem junto à fogueira, conversando, bebendo, comendo e soltando fogos. De vez em quando passava um grupo de pessoas, formado até por desconhecidos e com toda a alegria gritar: “São João passou por aqui?”. Caso a resposta fosse positiva, bastava entrar na casa, comer e beber, não exatamente nessa ordem.

Por motivos óbvios, esse costume foi desaparecendo por duas questões relevantes: a segurança e os recursos cada vez mais escassos nos bolsos dos pais de família. Outro componente importante foi a edificação de muros, com as fogueiras, em número cada vez menor, na frente da casa, resguardando as famílias dos possíveis maus elementos e da boca-livre dos desconvidados.

Outro fator que modificou a comemoração do São João foi a realização de grandes festas abertas, bancadas pelas prefeituras, e as particulares, em ambientes fechados, com atrações variadas, comes e bebes no sistema de bufê livre, ou não. Essas festas se tornaram agenda fixas em muitas cidades, que recebem caravanas vindas de regiões distantes.

Nas pequenas cidades o costume da fogueira ainda é mantido, muitas das vezes com restrições à boca-livre dos passantes, devido ao orçamento muitas vezes apertado dos donos das casas. Com isso, a festa junina, que comemorava a colheita na agricultura, perde alguns dos seus atributos mais tradicionais, habituando-se aos novos tempos.

O importante é não deixar de festejar, tomando todos os cuidados com os fogos e as bebidas, principalmente os que terão a obrigação de dirigir veículos estrada afora. Mas voltando ao começo, grande parte da escassez de fogueiras é resultado de campanhas dirigidas à preservação das árvores, embora boa parte dessa madeira seja oriunda de “florestas plantadas”.

Muitos nem conhecem mais a velha frase junina: “São João passou por aqui?”.

*Radialista, jornalista e advogado


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