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A cacauicultura ultrapassa fronteiras inimagináveis |
Por
Walmir
Rosário*
Não existe
qualquer ser vivente que registre hoje um só político visitando a Ceplac e as
fazendas de cacau do Sul da Bahia. Faz muito tempo que a cacauicultura baiana
começou a ser desprezada por alguns setores da sociedade. E quem inaugurou essa
virada foi o segmento bancário, fechando as torneiras para os financiamentos de
custeio e investimento.
E
esse caso de desamor data do final da década de 1980, com a infestação dos pés
de cacau com a vassoura de bruxa, doença que dizimou os cacaueiros e quase mata
sem dó nem piedade a principal matriz econômica do Sul da Bahia. Sem recursos
para honrar seus compromissos com os trabalhadores, o manejo das roças e,
sequer, comprar alimentos para a sua sobrevivência, o cacauicultor foi banido
do mundo produtivo, comercial.
Nesta
data era comum o desembarque de um monte de políticos no Sul da Bahia, para cumprir
um extenso roteiro, a começar pelas instalações da Ceplac, fazendas
(principalmente as mais infestadas) e redações de jornais, rádios e TVs. Com o
cenho franzido, analisavam a situação de penúria do setor cacaueiro e prometiam
reverter a terrível situação junto ao governo federal.
Os
políticos de situação semeavam esperança ao garantir as ações salvadoras e os
oposicionistas culpavam o governo pela imobilidade que resultou no maior crime
de lesa pátria contra a região cacaueira. Como sempre, se autointitulavam
representantes da lavoura e cobravam uma votação expressiva para eles (claro),
pois assim teriam força para eliminar a crise.
E os
deputados cobravam a presença dos presidentes da República, que teriam que
examinar – in loco – o debacle da
antes rica região cacaueira da Bahia. À custa de muita lábia, finalmente apareceu
um deles, que por desconhecimento total do assunto parecia perdido nas areias
do deserto do Saara. Mesmo assim, experimentou o cacau in natura, na forma de
chocolate e o famoso mel afrodisíaco. E fez mais promessas.
Na
realidade, mais promessas não cumpridas, ou solucionadas em parte, sempre com
notícias alvissareiras. Fora da mídia, os ministérios ou instituições que
deveriam alocar os recursos sussurravam que não seria legítimo colocar dinheiro
bom no cacau, um negócio ruim. Apesar da situação de miséria os cientistas da
Ceplac começaram dar a volta por cima e apresentaram novos materiais genéticos
de qualidade.
Com
os novos clones disponíveis – alguns deles prospectados nas fazendas da região
–, o entrave continuava pela atávica falta de recursos disponíveis para a
implantação dos novos materiais. Os cacauicultores que possuíam negócios
diversificados conseguiam renovar as plantações com os clones tolerantes à vassoura
de bruxa e de alta produtividade.
Aos
poucos as fazendas de cacau foram mudando de donos; os pequenos produtores também
passaram a renovar suas plantações. Na mesma proporção em que a cacauicultura
ressurgia, a Ceplac era desmontada e o silêncio dos políticos ensurdecia.
Enfrentando as adversidades, o cacauicultor conseguiu dar a volta por cima e
hoje não ouve mais o lero-lero enganador.
Se no
Brasil a cacauicultura conseguiu ser renovada, o mesmo não aconteceu na Ásia e
África, acometida por uma série de doenças e adversidades climáticas, o que
elevou o preço do cacau no mercado internacional. E esses compradores passaram
a enxergar o produto brasileiro com bons olhos, devido à qualidade superior
entregue pelos novos cacauicultores brasileiros.
O
aumento do consumo e, por conseguinte, dos preços, elegeu o cacau como a
commodity queridinha da vez, derrubando mitos, e a cacauicultura passou a ser implantada
em todo o Brasil, inclusive a pleno sol, pelos grandes representantes do
agronegócio do Oeste baiano. E como um negócio democrático os cacaueiros têm se
adaptado à caatinga com plantações, inclusive, em diversas regiões de Sergipe.
O
silêncio dos políticos na cacauicultura deve ter sido benéfico para o produtor
rural, que se ateve mais às questões científicas, em detrimento das promessas
não cumpridas de Brasília. A análise não se prende apenas a essas questões e
são por demais complexas. Mais uma coisa é certa, os políticos já resolveram
problemas da cacauicultura, isso na segunda metade da década de 1950.
Nessa
época, o governo federal criou a Ceplac, de início a do financiamento da
cacauicultura. Com o visionário José Haroldo, vieram novas fases da Ceplac: a
da extensão rural, da pesquisa, ensino e do desenvolvimento. Com isso, atualmente, o
sergipano não precisará deixar sua terra natal para trabalhar com o cacau nas inóspitas
terras grapiúna de antigamente, pois agora o cacau chegou a ele.
*Radialista,
jornalista e advogado.
Pura verdade. Parabéns. Excelente matéria. Estamos precisando divulgar essa matéria
ResponderExcluirExcelente texto !
ResponderExcluirQue raio X perfeito da situação atual da cacauicultura! Magnífico! Como sempre da lavra do querido amigo de comunicação Walmir Rosário. 👏🏻👏🏻
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