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O romance de Ramon Fernandes (Ramon Foto Charles Kitan) |
Por
Walmir
Rosário*
Em
apenas duas sentadas – com muito fôlego – li o novíssimo romance “Pedra Branca,
sangue e poder”, lançado no último sábado (10-08-24), no restaurante Porto dos
Milagres, em Canavieiras, por Ramon Fernandes. O livro marca a estreia do autor
na literatura, com uma obra bem engendrada e que contribui para o
enriquecimento da intelectualidade regional.
A
história é ambientada na fictícia Pedra Branca, pequena cidade interiorana
fincada nas barrancas do rio Jequitinhonha, bem na divisa dos estados da Bahia
e Minas Gerais. Como todo o romance que busca prender o leitor, já no início
nos apresenta um personagem que morre cedo, mas deixa um imenso legado.
A
história é bem fiel ao estilo de vida interiorano, com fortes raízes fincadas
na família campestre e na pachorra das pequenas cidades, com a predominância
dos seus personagens marcantes. E todos estão bem situados, cada um com seus
destaques: o padre, os coronéis, os comerciantes, os políticos, o delegado, a
dona do bordel, ou casa de conveniência, como queiram.
Ramon
Fernandes é formado em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz
(Uesc), professor na rede particular de ensino, servidor público municipal da
Prefeitura de Canavieiras e ex-secretário de Cultura. Embora com vida fincada
em Canavieiras, conhece e viveu em outras cidades regionais, algumas bastante
parecidas como a descrita no romance.
Daí é
que após a leitura de Pedra Branca, sangue e poder tomei a liberdade e
indiscrição ao perguntar ao autor se o livro era oriundo de uma história
verdadeira e por ele romanceada. Respondeu que era apenas fruto de sua
imaginação – criativa, digo eu, diante do bom argumento, desenvolvimento e
ambientação.
Os
personagens com vida breve na história saem com dignidade e os longevos sempre
aparecem em bons momentos. Não sei se é redundante observar que nas cidades
pequenas – no estilo Pedra Branca – as ocorrências são sempre monótonas,
contrastando com os fuxicos e brigas normalmente resolvidas entre as partes, no
estilo mais agressivo.
As
diferenças menores são resolvidas por meio dos conselhos do delegado, que a
todos conhece e há muito se tornou amigo. Mas só que mora ou morou em pequenas
cidades interioranas, notadamente nas divisas de estados, conhecem de perto as
rusgas entre as pessoas influentes e seus apaniguados, que vão desde as
questões de terras e as políticas.
E em
Pedra Branca as guerras não acontecem somente entre as diversas famílias, mas
também dentre um mesmo clã, geralmente derivadas por ciúmes, posição social e
riqueza. E essa questão está presente no romance com briga fraticida entre
coronéis, sem faltar motivação para a expropriação de terras com o apoio dos
revólveres e rifles dos jagunços.
A personalidade
feminina aparece com muita distinção e força, desde a coronela, senhora de si e
que comanda com mão-de-ferro suas propriedades e família. Com a ajuda de bons
jagunços, defende seus bens contra pessoas da própria família; resolve sua vida
conjugal de uma hora pra outra após a viuvez; ajuda seus protegidos. Uma mulher
resolvida.
Também
aparece com altivez e se torna personagem marcante a figura meiga da senhora do
delegado, com ares de professorinha, que assume o protagonismo de uma hora pra
outra, sem que alguém esperasse. Outra personagem, esposa de um coronel, vítima
de maus-tratos, resolve se libertar do jugo do marido, toma uma atitude
inesperada e vai viver nova relação. Esta proibida pelas leis dos homens e de
Deus.
Não
poderia faltar na trama os forasteiros que chegam, encontram oportunidades e as
aproveitam. Alguns metem os pés pelas mãos, mas conseguem se segurar devido às
habilidades no relacionamento social e político. Mas como sempre nessa vida
terrena, a avareza, a inveja e soberba promovem a própria destruição.
Como
no juízo final, os personagens ganham o lugar que merecem na história, sem
atropelos, de acordo com seus procedimentos. Os maus geralmente acabam na
cadeia ou cemitério, os bons continuam distribuindo felicidade, os menos atrevidos
sem destaque. Cada qual no seu quadrado, como determina Ramon Fernandes, com
minha posterior aprovação. Recomendo.
*Radialista,
jornalista e advogado.
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Lançamento do romance de Ramon Fernandes |
A leitura da resenha desperta em nós a curiosidade de conferir o engendramento da obra.
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