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Dr. Érito Machado (o primeiro à esquerda acima) |
Por
Walmir
Rosário*
Recentemente
abordei numa crônica um nosso professor de Direito Civil, Érito Francisco
Machado (juiz, desembargador e presidente do TRT-BA 5ª Região), e recebi de
colegas pedidos de novas histórias sobre ele. Mesmo sem ser preciso, não deixo
de falar sobre seus atributos intelectuais, sua formação humanista e a
independência em suas decisões.
Antes
de Itabuna, aonde veio assumir a Justiça do Trabalho, foi juiz de Direito na
Comarca de Irecê (BA), no final da década de 1950. E o Dr. Érito comentava que
a prestação da justiça nos processos ia além dos autos, pois dependia da
realidade e situação das partes. “Não posso condenar uma pequena empresa a
pagar sentença absurda, fechar as portas e deixar outros 10 pais de família
desempregados”, dizia.
E o
juiz Érito Machado adotava uma linha de conduta rígida, a começar pelo modo de
vestir, sempre social, se permitindo a tirar o paletó e arregaçar as mangas da
camisa apenas quando ia à praia. Não frequentava qualquer ambiente, tampouco
recebia presentes e outros mimos, obedecendo, rigorosamente, a liturgia do
cargo e a educação familiar.
E ele
nos contava que antes de ingressar na Justiça do Trabalho era juiz de Direito
na comarca de Irecê. Reunia-se diariamente – após o expediente forense – na
residência do prefeito, para um bate-papo intelectual seleto, com o padre, o
diretor do ginásio, um pastor protestante, além do próprio alcaide e
esporádicos convidados.
Certa
feita julgou uma ação judicial que envolvia a propriedade de uma grande
extensão de terras, cuja sentença foi contra os interesses do então prefeito,
anfitrião diário dos encontros vespertinos. Agiu como o magistrado que era, e
ao sair do fórum cumpriu seu ritual diário, para a tertúlia cotidiana com os
amigos, justamente na casa da parte derrotada na ação.
Para
o magistrado, nada fora da normalidade, agiu como deveria, dando o direito a
quem deveria, sem o envolvimento inerente de quem detém o poder ou por causa da
amizade. Chegou, abriu o portão, chegou à varanda cumprimentou os presentes e
se sentou, como todos os dias, na sua cadeira favorita, conforme o ritual
diário.
Todos
os saudaram efusivamente, como de hábito, seguindo as costumeiras perguntas
sobre o dia a dia, a exceção do anfitrião, que respondeu ao seu cumprimento com
um muxoxo e sequer abriu os lábios para responder com a cordialidade de sempre.
E nosso personagem cumpriu a rotina de sempre: falou sobre os assuntos mais
importantes do dia e não foi respondido com a afabilidade de sempre.
De
pronto, o Dr. Érito Machado desconfiou da distração do ora dissimulado
anfitrião e continuou agindo como nada daquilo lhe dizia respeito. Se dirigiu à
mesa, colocou gelo no copo, abriu o litro de whisky e se serviu generosamente, como costumeiramente fazia.
Voltou a ocupar sua cadeira e retomou aos assuntos corriqueiros com os outros
convidados.
Embora
o bate-papo continuasse rolando, o clima não foi dos melhores, por parte do
anfitrião, que assistia a tudo e não participava das conversas, como era do seu
feitio. Não teceu críticas à falta de repasses de recursos pelos governos
estadual e federal, não contou seus planos para o desenvolvimento da cidade,
sua querida Irecê, como tratava.
Por
volta das 19h30min, seguiram o rito mantido há anos, se despediram e prometeram
retomar a discussão dos assuntos na tarde seguinte. Diante do clima de velório
visível na figura do prefeito, os convivas se dirigiram às suas residências sem
tocar no assunto. Nem precisavam, pois a sentença lavrada pelo juiz de Direito
ganhara os quatro cantos de Irecê.
Para
o prefeito a retumbante vitória na ação que se arrastava há anos, agora
resolvida, seriam favas contadas. E foi o próprio alcaide quem sugeriu ao juiz
que desse uma atenção especial ao processo que dormitava nos arquivos do
cartório. Com toda a dedicação, o juiz Érito Machado examinou o processo e fez
a justiça conforme demonstravam os fatos nos autos do processo.
Ao terminar
de contar a história, o nosso professor Érito Machado dava uma verdadeira lição
aos seus alunos e amigos. “O direito é pra ser concedido a quem o possui, não
pode ser dado por amizade ou vendido a troco de dinheiro ou benesses. No dia
seguinte, voltei à casa do prefeito, que já parecia refeito do trauma,
conversamos como sempre e bebemos o nosso whisky
à vontade”, finalizou a história.
*Radialista,
jornalista e advogado.
Um Juiz honrrado,👏👏👏👏👏
ResponderExcluirAcrescente-se a isso o momento em que, estando para fechar o curso de Economia, propusemos - os alunos - se ele toparia ser o Diretor da Faculdade de Economia. Ele topou e hoje ela faz parte da história da UESC
ResponderExcluirMarcelo CATIGURIA
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