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Durval Filho é homenageado na Igreja Adventista |
Por Walmir Rosário*
Dizem que algumas frases são como flechas atiradas. Jamais
voltam, e nunca serão esquecidas, apagadas do mapa ou da memória das pessoas,
embora não façam mal ou bem correm o mundo. E foi justamente o que aconteceu
com o coleguinha das redações (desculpem a audácia), Nélson Rodrigues, com
algumas de suas mais conhecidas frases de efeito.
E essa – bastante repetida –, “toda a unanimidade é burra”,
acredito que Nelson a criou por não ter tido a oportunidade de conhecer o
canavieirense Durval Pereira da França Filho, ou simplesmente professor Durval.
E não é que ele – Durval – completou 80 anos em 11 de agosto último, cercado de
amigos forjados ao longo de sua vida.
Aproveitou o sábado (09-08) para comemorar a data nas formas
religiosas e profana. Pela manhã, culto na Igreja Adventista, da qual é membro
desde os 8 anos de idade, se não fui traído pela data. À noite, reuniu amigos
de Canavieiras e de outras cidades, muitos presente para abraçar o mestre e o colega
num clube da melhor idade, entre eles eu e Raimundo Tedesco.
Assim que sua família deixou a fazenda pras bandas de
Jacarandá e se transferiu para a cidade de Canavieiras, Durval se dedicou à
religião, às letras, à cultura. Ainda menino, buscou recuperar os anos perdidos
fora da escola, quando na roça, cursando o antigo primário e o ginásio em tempo
recorde, para surpresa dos colegas e professores.
Antes de colocar na parede o quadro com o primeiro diploma já
lecionava e continuou com sua paixão pela educação por toda sua vida. Professor
da escola da Igreja Adventista do Sétimo Dia, do Colégio Estadual Osmário
Batista, Colégio Presbiteriano João Calvino, Faculdade Santo Agostinho, em
Ipiaú. É lembrado como professor de cursinhos pré-vestibular, cujos alunos o
agradecem até hoje pela formação. Também é um dos fundadores da Academia de
Letras e Artes de Canavieiras (Alac), e foi secretário de Cultura e diretor da
Biblioteca Afrânio Peixoto, em Canavieiras.
Mais que um simples professor, Durval nunca se limitou a
ensinar a matéria de sua responsabilidade e sim formar o caráter das pessoas, a
importância da educação física na massa corporal e na arte de pensar. E eles o
agradecem, penhoradamente, pela formação e o cobraram por não ter incluído o futebol
de campo nos eventos neste aniversário, como na comemoração dos 70 anos.
Empregado aposentado do Banco do Brasil, Durval Filho estudou
Filosofia na Faculdade de Filosofia de Itabuna (Fafi), mas não conseguiu
completar o curso por incompatibilidade com o horário de trabalho. Anos depois
retorna à Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), gradua-se em História e,
em seguida, especializa-se em História Regional. Logo depois se torna Mestre em
Cultura e Turismo pela Uesc, em parceria com a Ufba. Na conclusão do mestrado
apresenta a dissertação “Belmonte, Memória, Cultura e Turismo: numa (re)visão
de Iararana”, de Sosígenes Costa.
Na literatura, Durval Filho não se limita aos temas
históricos e escreve diversos livros sobre a história de Canavieiras, com
destaque para Canavieiras Terra Mater do Cacau, em coautoria com Aurélio
Schommer. Também são de sua lavra Pelos Caminhos da Fé, aspectos da
cristianização católica na história de Canavieiras, além de Temas e Tempos
Diversos, dedicados à poesia.
Nos próximos dias o professor Durval nos brindará com o livro
Nos Escrínios da Memória, no qual revela passagens preciosas, do próprio punho,
sobre a trajetória de uma pessoa simples, observadora, inteligente, que traçou
um modo de vida e o seguiu fielmente, sempre atento às possibilidades. Um chefe
de família exemplar, um homem de muitos amigos, entre eles uma imensa legião de
ex-discípulos.
Centrado em Canavieiras, percorreu uma banda do mundo em
busca de novas culturas, mais conhecimento e novos amigos, com os quais se
corresponde, especialmente sobre literatura. Casado com Maria Lúcia Nonato
França, é pai de Cassius Marcelus, Lísia Cláudia e Lúcio Marcus Oliveira de
Nonato e França, e avô de Brunna, Rafael, Diogo, Maria Eduarda, Ana Cássia e
João Gabriel.
Durval Filho é aquela pessoa que todos o querem como amigo. Sabe
ouvir, opinar, aconselhar, trocar uns dedos de prosa sobre qualquer assunto.
Adventista, sempre que chamado vai à Igreja Católica falar sobre a história de
São Boaventura, bem como em outras igrejas protestantes, Loja Maçônica, dentre
outras instituições.
O botafoguense Durval Filho, ladeado pelos filhos e netos
Botafoguense, fez questão que o bolo de aniversário fosse
elaborado com as cores e a estrela solitária do time de sua predileção. Apesar
de abstêmio, coleciona centenas de amigos que cultuam o esporte etílico. Destes
recebem convites para comparecer à Confraria d’O Berimbau numa visita
eminentemente histórica. Dá uma risadinha, mas por lá nunca deu as caras.
Mas como o inusitado sempre acontece, ao defender sua
Dissertação de Mestrado, Durval se encontra com um dos componentes da Banca
Examinadora, o Professor-Doutor Jorge Araujo, ex-colega da Fafi e amigo. Lá
pelas tantas, Jorge Araújo ressalta as qualidades de Durval, seu parceiro de
muitos anos de farras, intelectual de primeira qualidade.
Na plateia, a família de Durval acompanhava tudo com muita
atenção e as palavras de Jorge soaram como um terrível desatino. No retorno a
Canavieiras, Jorge Araujo pega uma carona até Ilhéus e Durval, ainda abismado,
resolve esclarecer a dita parceria nas farras. Sem pestanejar, Jorge responde:
– Ora, Durval, não se preocupe, foi apenas um artifício
corriqueiro utilizado para deixar os professores e o mestrando à vontade. Não
se preocupe –.
E todas as dúvidas familiares foram esclarecidas.
*Radialista, jornalista e advogado
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