BRINCAR COM COBRA NÃO É DO MEU AGRADO


Cobra naja, serpente perigosa

Por Walmir Rosário*

Fiquei indignado com o cabra lá de Brasília que cria cobras em casa. Ainda bem que a polícia conseguiu desvendar a trama, prender as cobras e aplicar uma multa no indigitado de muito mal gosto. E não era uma cobrinha qualquer, daquelas sem veneno e que só conseguem assustar o povo, era uma naja, contrabandeada do exterior, que lhe aplicou uma boa picada.

Como costumavam dizer os mais antigos, quem com muitas pedras bole uma lhe cai na cabeça, e foi justamente o que aconteceu com o cidadão de gosto estranho lá no planalto central. Não sei se esse gosto por esses animais de sangue frio fosse apenas pelo gosto de desafiar o perigo ou para se mostrar aos amigos, parentes e aderentes seu comportamento extravagante.

Sem querer ofender o rapaz – que nem conheço –, acredito que deve sofrer de algum transtorno sério, quem sabe é um psicopata, que nunca foi se consultar com um psicólogo, analista, psicanalista ou psiquiatra. Entretanto, sem o tal do diagnóstico fica muito difícil para um leigo como eu atestar de que mal poderia sofrer esse tal criador de cobras.

Mais complicada fica a situação do tal criador de cobras por se tratar de uma naja, serpente alienígena cujo habitat são os continentes africano e asiático, trazidas para o Brasil de forma ilegal. Tanto é estranha ao nosso ambiente, que o Instituto Butantã tinha apenas em seu estoque uma única dose do soro antiofídico, repassada ao picado. Quem sabe uma cachaça com cobra fosse melhor?

Mesmo sem conhecer o tal indivíduo, já comecei a não gostar do cabra, que não cuida de si e muito menos dos outros. Tanto é assim que foi picado pela naja e ainda tinha mais de 15 em casa, que foram desovadas em caixotes. Uma das cobras foi largada num shopping, enquanto as outras foram deixadas num sítio próximo.

Como tem gente abilolada neste mundo! Pelo que estou acostumado a ver desde que era menino, animais de estimação eram – é ainda são – cachorros, gatos, ratos (do branco), coelhos peixes de aquário, cágados... Já vi preás, porcos (e não era para comer), jacaré, onça, leão e até urubu, todos bem tratados, ao contrário das cobras, magras e com lesões.

Antes das leis de proteção ao meio ambiente, os quintais de casas no interior eram povoados com algumas caças, que se misturavam com as galinhas, macacos, mas só até engordar, quando eram destinados às panelas para o almoço de domingo. Valiam ouro um tatu – mesmo do peba –, uma paca, ou um pássaro maior como os mutuns, macucos, cordonizes e nambus.

De pronto, aviso que animais de estimação nunca foi do meu agrado, pelo simples fato da família – principalmente as crianças – se afeiçoar a esses bichos e a morte de um deles ser um desespero. Com base nessa premissa, deixei bem claro – nem precisou de um decreto – que a partir daquela data o único gato ou cachorro em casa seria a minha vistosa figura.

Chororôs à parte, continuamos estimando uns aos outros humanos, embora nunca desprezamos ao bichos de estimação alheios. Eu mesmo não me sinto bem na casa de ninguém com aqueles cãozinhos latindo insistentemente ou os rottweileres ou pit bulls olhando desconfiado para os estranhos, como se fosse um velado convite para nos retirarmos do ambiente.

Anos atrás cometi uma gafe terrível ao responder a um amigo que chegou em busca de um ombro amigo para chorar a morte de seu cãozinho minúsculo que sempre me atazanava. Ao me relatar que seu pinscher fora comido numa só bocanhada por um enorme fila brasileiro, sem pestanejar respondi: “Bem feito, vai desafiar os maiores”… Por essa grosseria perdi o amigo por uns seis meses.

Mas voltando às cobras, que são os bichos em questão, hoje olho o amigo Raimundo Tedesco com desconfiança. Volta e meia o confrade se oferecia para trazer uma peixada para servir nas assembleias da Confraria d’O Berimbau. Não saia do meu pensamento aquele peixe sem espinhas, porém bem diferente de cação, meca (espadarte). Para o meu desespero minhas dúvidas tinham fundamento: era cobra sucuiuba.

Pois foi a nossa sorte: a cobra era desprovida de veneno.


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