Por Walmir Rosário
A exemplo de outros municípios, Ilhéus não atravessa um período
dos melhores. As causas são diversas, a começar pela falta da
entrega de serviços públicos à população nos mais variados
setores, incluindo, aí, os essenciais. Apesar do governo do Estado
montar um gabinete avançado na cidade e entregue a ponte, os
problemas locais estão longe de serem sanados. Como se não
bastassem, ainda vêm as amendoeiras atazanarem.
E olha que não se trata de uma simples amendoeira (Terminalia
catappa, maioria delas),
planta exótica que compõem a paisagem de centenas de cidades
brasileiras, como se daqui fossem. São as amendoeiras da avenida
Soares Lopes, ainda hoje considerada como uma ou a mais importante
via da cidade, em frente a mais famosa praia ilheense de tempos
passados, embora desprezada pelos ocupantes do governo municipal.
Sem dó nem piedade, machados, motosserras, facões, sei lá mais que
outros instrumentos derrubaram as amendoeiras de tantos anos. Pra
mim, mesmo desconhecedor das ciências agronômicas e biológicas,
foram cometidos dois crimes: um ao plantar amendoeiras na área
urbana e outro ao derrubá-las sem a anterior substituição,
causando irreparável prejuízo à fauna.
Sim, além da flora, a fauna. Mesmo os que não se engajam
diretamente na luta em favor do meio ambiente não deve ter se
sentido bem ao ver as imagens do despejo patrocinado pelo governo
Marão às milhares de aves – pássaros – que habitam as
amendoeiras. Notem que estou tendo todo o cuidado para não falar
disparates e acusar – injustamente – agentes do governo pelo que
deixaram de fazer.
Sem ter onde morar, os pássaros despejados dos seus lares foram
abrigar-se nas janelas dos edifícios próximos, locais totalmente
impróprios para recomeçarem suas vidas. E pergunto, já que estou
de longe: E os ninhos existentes nas amendoeiras foram socorridos
pela equipe da Secretaria Municipal do Meio Ambiente? Pelo que saiba,
não. A preocupação maior era mesmo demonstrar que fizeram tudo
dentro da legalidade.
Pra mim, essa defesa é altamente temerária e não terá o condão
de desviar o olhar do Ministério Público, já que existe um
protocolo (palavra que virou moda) a seguir, obedecendo todos um
processo. Na verdade, a defesa do governo Marão representa uma
confissão explicita do crime, por se tratar de uma instituição
pública, que deverá fazer estritamente o que está na legislação.
De acordo com a nota nem tão explicativa, o processo de
licenciamento ambiental teve início em 2015, por conta do complexo
viário da ponte Jorge Amado. Em 2018 – três anos após – a
Secretaria de Infraestrutura do Governo do Estado da Bahia requer “a
supressão dessas árvores dentro do processo de licenciamento
correspondente”, e dois anos depois as amendoeiras são cortadas.
Foram consumidos cinco anos de estudos e cinco minutos para a ordem
da destruição da flora e da fauna, numa processo no mínimo
imprevidente, pois não atentou para os devidos cuidados. Pecou no
tema político, se afundou na técnica. A mesma prefeitura que tem a
responsabilidade de disciplinar também tem o poder de executar. Em
outras palavras, a mão que afaga é a mesma que apedreja.
Alguns poderão dizer que são secretarias diferentes: uma do Meio
Ambiente, outra da Infraestrutura, ambas com atribuições e
conceitos diferentes. Enquanto a primeira tem que defender o meio
ambiente, a segunda reclama dos efeitos – perversos, para ela –
das amendoeiras sobre equipamentos públicos importantes, como a rede
de esgotamento sanitário e pluvial, pavimentação e alicerces.
Sendo a Prefeitura um único ente, os interesses das partes –
secretarias – deveriam ser debatidos e dirimidos pelo todo, após a
eliminação dos conflitos internos, quem sabe até com autoridade do
prefeito? Em vez de trilhar pelo caminho do entendimento, o governo
prefere demonstrar seu poder, de forma errada, com incúria,
negligência. Quem irá recompor os prejuízos?
Uma análise superficial basta para confirmar os desencontros da
administração municipal para solucionar os problemas mais simples,
como o corte de árvores exóticas, que poderiam ser substituídas
por espécies da Mata Atlântica, dentre as mais apropriadas para a
área urbana. Ao que sempre deixa transparecer, falta planejamento,
integração, liderança ao (des)governo Marão.
Um problema que para muitos parece nanico e sem motivos para tanta
repercussão, na verdade foi apenas e tão somente a gota d’água
no caldeirão da discórdia reinante na administração municipal,
onde cada um tem seu feudo impenetrável. O que sobra de gerentes
desfalca na liderança. Enquanto isso, em Ilhéus fica cada vez mais
difícil manter a qualidade de vida, até para os pássaros.
Comentários
Postar um comentário