Deroaldo e Ronaldo na Cantina Tico-Tico Foto Enault Freitas |
Por
Walmir
Rosário*
No
nosso tempo de menino em Itabuna uma das maiores diversões era assistir ou
participar dos jogos de futebol. Era a nossa mania municipal. Campinhos não
faltavam nos bairros e até no centro da cidade. Bastava uma bola, a marcação
das traves, muitas vezes com pedras, e a meninada com vontade de brincar.
Sobravam muitos, geralmente os sem habilidade.
Agora,
bom mesmo, era assistir aos jogos e treinos dos times amadores, principalmente
da invencível Seleção de Itabuna. Como nem sempre estávamos providos de
recursos para o ingresso, recorríamos aos jogadores amadores que possuíam a
carteirinha da Liga de Desportos Atléticos (Lida), e entrávamos com
eles. Claro, sem pagar nada.
E
existiam os funcionários que dificultavam nosso ingresso, enquanto outros
facilitavam. E uma dessas figurinhas carimbadas era Raimundo Pereira Borges, um
multifuncional no Campo da Desportiva, pois “jogava nas 11”, era bandeirinha,
árbitro, goleiro, diretor da Lida e dono do bar interno da Desportiva. Uma
figura alegre, brincalhona, afável, mas que sabia ser sisudo quando o assunto
requeria.
Zinho e Esposa |
Raimundo
Pereira Borges era pouco conhecido. Para nós era Zinho – só os mais velhos –, depois
Tico-Tico, novo apelido que ganhou quando em 27 de janeiro de 1950 inaugurou,
junto com sua esposa Miralva, a Cantina Tico-Tico, bem próximo do Campo da
Desportiva, na rua Almirante Tamandaré, ao lado do conhecido Jardim do Ó, local
em que funciona até os dias de hoje.
E a
escolha do nome foi pra lá de inusitado: um dia Zinho informa a seu irmão
Antônio, conhecido como Tote, dono do Bar dos Operários, que iria abrir uma
cantina e aproveita para pedir uma sugestão quanto ao nome que daria. Nesse
momento, Tote saia de detrás do balcão e se dirigia ao banheiro com um rolo de
papel higiênico, e mostrou ao irmão: “Bota o nome de Tico-Tico, como essa marca
de papel higiênico”. E imediatamente foi aprovado o nome.
O
local era pequeno, mas abrigava a todos, principalmente quando as empresas
próximas liberavam os empregados para a “merenda” da manhã e da tarde. Bem em
frente, onde hoje existe a Igreja Universal, funcionava uma revenda Volkswagen,
com cerca de 50 funcionários, muito deles com o lanche anotado no caderno.
Refrigerantes,
sucos e refrescos, pastéis bem recheados de carne, banana real, bolos de milho,
tapioca e aipim, além das batidas de gengibre e maracujá fazem o maior sucesso.
Com o passar dos anos a Cantina Tico-Tico ganhou conceito e frequência
diversificada, com mecânicos, radialistas, jornalistas, bancários, advogados,
comerciários, muitos dos quais buscavam o lanche fora da hora de grande
movimento.
Eu
mesmo fui cliente assíduo da Cantina Tico-Tico quando a redação do Jornal Agora
ficava do outro lado do Jardim do Ó. Todos os dias, eu, o saudoso colega
Euclides Batista (Zoca) e o diagramador Paulo Fumaça dávamos uma paradinha nas
“Olivetes” para o lanche sagrado. Barrigas abastecidas, trocávamos uns dois
dedos de prosa com Zinho e os filhos Ronaldo Deroaldo (Peu) e Deroaldo Ronaldo.
E aos
poucos o nome Zinho foi sendo transferindo para Tico-Tico, um expert na área de
lidar com o público e que soube repassar esse conhecimento aos filhos. Lembro-me,
ainda menino, de quando ele dirigia o bar do Campo da Desportiva e num domingo
o presidente da Lida o proibiu de vender cachaça, só cerveja e refrigerante. Foi
uma revolta geral, mas Zinho soube tirar de letra e apaziguar.
Deroaldo e Ronaldo no interior da cantina |
E
todo esse sucesso do Tico-Tico não subiu à cabeça da família que soube se
dedicar a servir bem aos fregueses, com bebidas e comidas de boa qualidade,
muitas delas fabricadas em casa. Um dos filhos, Deroaldo Ronaldo, optou pelo
trabalho na cantina e deu adeus à advocacia, num tempo em que os despachos e
sentenças eram raridades, pela falta de juízes e promotores.
E por
todo o sucesso dessa família à frente da Cantina Tico-Tico ao longo de 75 anos
ininterruptos, o Serviço Brasil de Motivação e Marketing (Simmbra), liderado
pelo empresário Valdir Ribeiro, prestará, nesta segunda-feira, 27, às 11 horas,
uma homenagem à Cantina Tico-Tico, com um Certificado de Excelência. E Valdir
Ribeiro ressalta que uma empresa familiar dificilmente consegue sobreviver no
mercado por todo esse tempo.
Raimundo
Pereira Borges, o Zinho, ou o Tico-Tico, nasceu em 7 de maio de 1930 e faleceu
em 18 de janeiro de 2011, deixando um legado para a família, que soube
perpetuar um empreendimento, que embora pequeno alcançou e soube se manter no
patamar do sucesso. Além de Ronaldo Deroaldo e Deroaldo Ronaldo, Zinho deixou
as filhas, Cássia, Clélia, Hélia e Alcimar.
Vida
longa à família Tico-Tico.
*Radialista,
jornalista e advogado.
Reportagens do Jornal Agora sobre Zinho |
Amigo Professor, Jornalista e empresário da comunicação Walmir Rosário, sempre nos encantando e emocionado com seus textos aceita nossos agradecimentos pelo seu brilhante trabalho.
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