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Wilson Midlej conta em livro a história da família no Brasil |
Os
árabes – sírios e libaneses –, incluindo aí os povos egípcios e turcos, quando
se encontram à mesa é uma festa gostosa sem data para acabar. Em meio às
delícias de comer e beber, muitas histórias. E não falam somente das saudades
sentidas da terrinha do outro lado do Oceano Atlântico, mas da felicidade que sentem em viverem no Brasil, sobretudo, de serem brasileiros.
Imaginem
o sentimento do jornalista, escritor e advogado Wilson Midlej em contar as
muitas histórias de sua família, que por motivos diversos, fincaram moradia
permanente no Brasil, mais especificamente no Sudeste da Bahia. Mas como eles
não vivem sozinhos, os “brimos” ganharam generosos espaços no livro A Saga dos
Sírios e Libaneses no Sudoeste da Bahia.
Se
mais o irrequieto Wilson Midlej não contou foi motivado pela falta de
informações verídicas, confirmadas por meio de documentos, ou viva voz dos que
aqui aportaram e adotados num país distante, diferente em costumes e clima.
Enfrentaram um mundo novo sem, sequer, falar uma palavra do nosso português,
embora conhecessem o francês, inglês, árabe e outros idiomas.
E o
nosso Autor não fez por menos e convidou o ilustre e festejado intelectual
Sérgio Mattos, jornalista, escritor, poeta, mestre e doutor em comunicação, com
assento em academias tantas. Do ofício conhece sobejamente, já que autor de 54
livros entre técnicos e ficção. E o livro sobre nossos amigos do Oriente Médio
ganhou um luxuoso prefácio.
Sobre
Wilson Midlej, Sérgio Mattos discorreu: “O jornalista, contista, romancista,
historiador e empreendedor é um cidadão que não desiste de seus projetos e
quando começa um novo desafio só quando termina a obra é que se dá por
satisfeito. Dono de uma grande simpatia pessoal, com a qual soube construir um
grupo de amigos diletos, além de determinação na realização de sonhos, neste
livro, o quarto de sua autoria, ele assumiu o compromisso pessoal de resgatar a
memória de algumas famílias de origem sírio-libaneses que se radicaram na
Bahia, mais precisamente na região cacaueira”.
E no
livro, tecnicamente elaborado e editado, o leitor viajará por terras inóspitas,
mas vividas com intensidade dos que vieram para construir uma vida diferente,
diria até que jamais imaginada. E souberam encarar com muita sabedoria,
perseverança e fé em Deus, já que de maioria cristã Maronita.
E
eram duas jornadas: a primeira com início no Oriente Médio, passando pela
Europa e cruzando o Atlântico. A segunda, bem real, começava ao desembarcar do
navio, em Santos, Rio de Janeiro ou Salvador. Passavam por exames de saúde,
eram inquiridos sobre o que fariam, muitos trocavam seus nomes e eram
orientados sobre como encontrarem seus familiares. Outros, nem tanto.
E
Wilson Midlej nos serve de cicerone nas viagens empreendidas pelos parentes e
“brimos” para encontrar as terras do cacau, numa viagem nos navios até Ilhéus,
onde muitos moravam. Muitos deles mascateando embreados na Mata Atlântica que
protegia as plantações de cacau; outros vivendo do comércio e serviços na
cidade grande.
Os
recém-chegados encontravam todo o apoio dos parentes ambientados e trabalhavam
com afinco para fazer fortuna. Ilhéus e seus distritos prósperos, como Pirangy
(hoje Itajuípe), Tabocas (atual Itabuna), Rapatição e Alfredo Martins (ainda Camamu),
posterior distrito de Rio Novo (quando passou para Jequié), e em 1933 passou a
ser chamado de Ipiaú, já elevado a município.
De
mascates passaram a empregados e donos de lojas, e a cada dinheiro economizado
passavam a investir em fazendas de cacau e pecuária. Influenciaram na cultura
dessas cidades, na culinária, e mesmo quando faltavam ingredientes a sabedoria
das senhoras era pródiga em substituí-los por produtos da agricultura
brasileira.
Dentre
os Midlej merecem destaque Elias Abraham e Vitória Koury, ele nascido em
Kaituly, no Líbano, e ela egípcia. Conheceram-se em Alexandria (Egito). Já casados
e com uma filha, Reymonde, e mais uma gravidez, resolveram se mudar para o
Brasil, onde já moravam três irmãs, um irmão e uns primos de Elias. Em Salvador,
desembarcaram na Ponta de Humaitá, em Montserrat.
E os
então futuros avós do Autor, Wilson Midlej, rumaram para Ilhéus, se
estabelecendo no distrito do Rio do Braço, empreendendo numa casa comercial,
levada pela enchente de 1914. Com o dinheiro que restava se mudam para Ilhéus,
e em seguida para Rio Novo. À época, a família contava com cinco filhos:
Raymonde, Angel, Frederico, Jancy e Beatriz. Em seguida vieram Ibrahim,
Vivaldo, Floripes e Fauze.
Além
dos Midlej, o Autor também esmiúça as famílias Maron, Thiara, Hagge, Salomão,
sendo que algumas delas se entrelaçam pelos municípios do Sul e Sudeste da
Bahia, com destaque para Ilhéus, Itabuna, Ipiaú, Jequié, Itajuípe, Ibirataia,
dentre outros. O livro é um romance histórico que nos prende na leitura, com surpresas
e emoções.
E para
quem pensa que os nossos desbravadores sírios e libaneses só se preocupavam em
trabalhar, amealhar dinheiro e enriquecerem, estão enganados. Aqui eles estabeleceram
um modo de vida típico brasileiro, sem esquecer a cultura de origem, seus
costumes, sua rica culinária, com pratos deliciosos e receitas disponíveis
neste livro.
E
Wilson Midlej não deixou por menos e usou toda sua verve de exímio contador de histórias,
a exemplo de livros anteriores: Crônicas da Bahia Sob o Sol de Jequié (2014), Gatilhos
de Lembranças: a Eternidade do Tempo (2015), e Anésia Cauaçu – Lendas e
Histórias do Sertão de Jequié (2017).
*Radialista,
jornalista e advogado
Excelentes narrativas com grandes embasamento da realidade.
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