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| Os sempre agitados sábados no Beco do Fuxico |
Por
Walmir
Rosário*
Posso
assegurar que continuo vivo e gozando da mais perfeita saúde, avalizado por um
conceituado médico após ler e reler o papelório enviado pelo laboratório de
análises clínicas. Sequer um Melhoral, Cibalena ou outro qualquer medicamento
me foi receitado, embora o ilustre esculápio tenha me alertado sobre os anos
que pesam na minha cacunda, como se dizia antigamente.
Confesso que
comemorei o feito por pelos menos três semanas, em encontros com amigos para
uns dois dedos e prosa, sempre mediados por uns goles de cerveja, bons aperitivos
de cana e apetitosos tira-gostos. Como Canavieiras ficou pequena para as comemorações,
fui com Batista levar a boa nova a Una, desta vez sem a presença de Valdemar
Broxinha e seu violão.
Após esse
período de vida social agitada resolvi – solenemente – mergulhar no recôndito
do lar para mais que um merecido descanso, pois afinal ninguém é de ferro.
Estripulias à parte, nada melhor do que um período sabático – por menor que
seja – para as devidas meditações e análises de ações pretéritas e o planejamento
do breve porvir.
Nesta
sexta-feira (também conhecida pelo início do fim de semana) acordei cedo, e embora
não tivesse a menor necessidade de pegar o sol com a mão, a pequena claridade
me anunciou um novo dia. Não posso negar que ao abrir os olhos me senti
mareado, como se tivesse navegado por mares bravios, apesar da maciez do
colchão que me ajudou a dormir o sono dos justos.
Deixei a cama
bem devagar, abri uma fresta na cortina para me situar bem da localização e
descobri que estava em local sabido e seguro. Não me contive e escancarei a cortina,
permitindo o clarão solar penetrar em todo o quarto. Foi aí que me dei conta
estar em frente ao famoso, histórico e não menos agradável Beco do Fuxico, em
Itabuna, na Bahia.
Aos poucos
fui recuperando a consciência do meu novo endereço, com nome de rua e CEP. É
que deixei Canavieiras para os passeios de finais de semana, onde encontrarei os
amigos bem chegados para novas comemorações. Aos poucos contive meus ímpetos,
afinal tinha a obrigação familiar de ajudar na arrumação da bagagem, colocar a
casa em ordem.
De pronto,
digo e repito que esse não é o tipo de obrigação doméstica que tenho desvelo,
embora não sou de correr do chamamento ao dever, desde que não prejudique a
torta coluna e demais músculos atrofiados. Por volta do meio-dia, com o coração
palpitando, desci o Beco do Fuxico em busca de alguns produtos para casa,
cumprimentando alguns amigos e prometendo revê-los em muito breve.
Para não ser
traído pela memória resolvi pegar um bloco de notas de uma caneta e traçar o caminho
deste sábado, quando os estabelecimentos etílicos do Beco do Fuxico estarão no
auge de suas atividades. Logo cedo passarei para cumprimentar o Brigadeiro
Eduardo Gomes no bar Artigos Para Beber, e duas quadras após chegarei à
Fuxicaria e farei o reconhecimento dos confrades.
Ao lado, no
ABC da Noite, pedirei ao Caboclo Alencar a renovação de minha matrícula, sem
muita burocracia, diante de minha condição de aluno repetente desde o século
passado. Pra começo de conversa, serei servido com uma das mais famosas batidas
de minha predileção por dona Neusa, quando então me sentirei no meu segundo
lar.
Caboclo Alencar e o aluno repetente
Daí pra
frente como um animal gregário que sou, sentarei às mesas com dezenas de amigos
e confrades que fazem dos sábados no Beco do Fuxico a mais importante
trincheira da boemia itabunense. Entre um gole de batida e um copo de cerveja
não deixarei de cumprimentar outras “tribos”, inclusive as que raramente
aparecem para um gole, além dos abstêmios. Sim, eles existem!
E alguns ainda
não acreditam em amigos (os verdadeiros). Por ironia do destino, ao comentar o
amigo e irmão José Augusto Ferreira que estaria retornando – de mala e cuia – a
Itabuna, minutos depois e comenta com outro confrade, o Paulinho Neto. Por incrível
que pareça, Paulinho responde: “No meu prédio tem um apartamento vagando e já é
dele”.
Agora, para
entrar no Beco do Fuxico nem dobro esquina, basta traçar uma perpendicular e
descer a ladeira.
*Radialista,
jornalista e advogado.

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